Não precisamos de ir tão atrás para recordar o dia em que a mãe de Felismina Ramalho a iniciou na caiação em grupo. «Tinha 12 anos. Era um trabalho feito só por mulheres e passado de geração em geração. Toda a vida me recordo de ver as minhas avós, tias e a minha mãe a fazer este trabalho.»
A água é um dos elementos fundamentais para fazer cal. «A cal vem em pedra, depois derrete-se numa bilha ou numa lata em água fria. Vai-se pondo, pedra por pedra, porque ela vai ferver muito e depois queima. Mexendo para a cal ficar bem derretida, caso contrário fica pedra e areia no fundo e não dá para utilizar.»
Após 48 horas obtém-se aquilo a que se chama leite de cal e pode-se começar a pintar, com trinchas, brochas e vassouros de pelo farto distribuídos pelas mãos das caiadeiras. No entanto, a “professora” Felismina aconselha deixar a matéria-prima descansar mais tempo.
Tal como muitos outros afazeres alentejanos, começar a caiar com os primeiros raios de sol é a opção ideal.
A cal branca pinta o horizonte alentejano e incentiva a repetição de gestos imemoriais realizados em família. A Câmara de Beja está a preparar a candidatura da actividade associada aos fornos de cal artesanal a Património Imaterial da Humanidade. Tradicionalmente eram os homens que coziam e tiravam a cal dos fornos para depois passarem o testemunho às mulheres. Caleiros e caiadeiras completavam-se. Entretanto os fornos caíram em desuso e hoje os homens que dominam a técnica contam-se pelos dedos de uma mão.
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*Moda do Entrudo, canção de Zeca Afonso inspirada pelo Cancioneiro Popular Português