Lá dentro, sentado no topo de uma das mesas de madeira corridas, esperava-nos José Vila, um dos proprietários do restaurante. Ao som de Cante Alentejano, que tocava no pequeno rádio, fomos recebidos como amigos de longa data. A presença física de Vila – a fazer lembrar o escritor Ernest Hemingway ou um pescador de alto mar, solitário, com um olhar triste -, transmitiu-nos confiança, conforto. As paredes forradas com obras suas, o fumo dos seus charutos, e todo o cenário à nossa volta, encaminhou-nos para um universo muito pessoal do artista.
A pintura também vem lá de trás – ainda hoje guarda as primeiras telas que fez com nove anos. Assim como a paixão pela gastronomia que foi ganhando sentido, ainda em pequeno, quando a sua avó o convidava para ir lá a casa comer. Recorda-se das refeições ao colo do avô e, mais tarde, em cima de caixas de figos. Na altura havia, e ainda hoje há, muitos figos no Algarve, e as pessoas, por necessidade, comiam muito este fruto.
O restaurante surge desta paixão e do convite de Lisa para integrar o projecto. O regresso à região onde nasceu, Mexilhoeira Grande, também era inevitável e, por isso, aceitou. Quando teve de preparar um menu fez uma recolha pelo Algarve, recuperou receitas que estavam fora de moda, e foi buscar os sabores da sua infância, ainda tão viva em si.