Entre as muitas colaborações que temos feito juntos, estão os mais recentes rótulos do Esporão Reserva e do Private Selection Branco. Na 1ª pessoa, fique a conhecer todo o processo criativo até à escolha das fotografias finais.
«Foi no dia 8 de Outubro de 2007 que fiz as minhas primeiras fotografias na Herdade do Esporão. Era o início de uma colaboração que permanece desde essa data, sobretudo, no registo do território da Herdade e das transformações a que está sujeito, e ainda a arquitectura das áreas de apoio à produção de vinhos e ao enoturismo.
Ao longo deste período, de sensivelmente dez anos, até à data de 15 de Novembro de 2016, fiz 18 427 fotografias. As últimas fotografias já tinham sido feitas no âmbito de um pedido: quatro fotografias para os rótulos dos vinhos Esporão Reserva e Esporão Private Selection, produzidos na Herdade. Era este o universo de partida para a selecção muito restrita de quatro imagens. A tarefa de exclusão de fotografias é sempre bastante difícil e morosa, cheia de dúvidas, hesitações e incertezas. E, quanto maior o número de imagens disponível, mais se agravam as dificuldades.
Ao longo deste período, de sensivelmente dez anos, até à data de 15 de Novembro de 2016, fiz 18 427 fotografias.
Comecei por afunilar a selecção definindo alguns princípios – as fotografias seriam em campo aberto e não estaria representada a vinha. Pareceu-me óbvio, desde o início, não apostar nessa redundância, de mostrar uvas, folhas de videira, ou fileiras de pés. Esses elementos estão dentro da garrafa, não precisavam de ilustração. Pela mesma ordem de ideias, excluí presenças humanas, aquelas que ao longo do tempo fui registando, sobretudo, nas vindimas. A arquitectura também não me pareceu fazer sentido, neste caso concreto de ilustrar um rótulo. Procurava aquilo que era a base daquele território, um conjunto de imagens de síntese do espaço, dos elementos que o povoam, e que acabam também por ser um retrato do Alentejo tão vasto.
Pareceu-me óbvio, desde o início, não apostar nessa redundância, de mostrar uvas, folhas de videira, ou fileiras de pés. Esses elementos estão dentro da garrafa, não precisavam de ilustração.
Fixado o conceito, percorri todo o arquivo fotográfico relativo à Herdade. A estas fotografias ainda foram adicionadas mais 2 594 que fiz já a pensar nas garrafas e nas imagens de rótulo. Estas últimas fotografias tinham sido feitas nos dias 14 e 15 de Novembro de 2016. A escolha desta data foi ocasional – havia uma particularidade cósmica – a Lua estava cheia e a uma invulgar proximidade da Terra. O céu estava limpo e acabei por realizar um conjunto de fotografias, longas exposições, da terra iluminada por uma luz lunar única, muito brilhante.
Da totalidade das fotografias seleccionei 331. Este já era um número mais acessível, mas ainda estava longe do objectivo pretendido. Tentei arrumar estas mais de três centenas de imagens por tipologias com nomes como liquens, mapa, água, azul, horizonte, vegetal, labirinto, árvore, tenso, linhas, tronco, caminho, rede, pedra… Este processo apenas aumentou a complexidade da tarefa. Mas, em passos lentos, o número de fotografias reduziu para 212 – com tempo, algumas, claramente, iam deixando de fazer sentido. O jogo seguinte foi o de agrupamento por unidades de quatro. Apesar das garrafas terem completa autonomia, procurava-se a coerência de um retrato. Todos os passos dados nesta decantação pareciam ter ficado para trás. Tinham sido momentos na evolução de um pensamento. Agora estava limitado a 32 fotografias. Propus uma conversa no Esporão para a selecção final ser feita em conjunto. O processo avançou então em discussão partilhada, tendo eu requerido algum afastamento por já estar demasiado embrenhado nesse espaço latente entre a terra e a sua representação pela imagem fotográfica.
Um processo de selecção de fotografias é uma tarefa “ingrata”. Parece que fixamos uma condição óptima, mas, passados alguns dias, começam a surgir dúvidas, muitas dúvidas. À medida que o tempo avança tudo se parece esboroar: “mas porque não seleccionei esta em vez daquela?”. É esta a mesma condição de quem, no campo, faz a recolha fotográfica de uma realidade que, embora aparentemente fixa, se transforma com uma enorme celeridade. É este o mundo de diversidade e perplexidade que queremos mostrar, que queremos partilhar com um copo de vinho.»
Duarte Belo
Viseu, 14 de Maio de 2018
Todas as fotografias de território aqui apresentadas são da autoria de Duarte Belo.