Só à saída conseguimos apreciar melhor o restaurante e a sua decoração. Pequeno, mas com boa arrumação e uma luz incrível, é um lugar acolhedor e quase um museu – pratos de mil cores, roubados à avó, algumas andorinhas de Bordalo Pinheiro, relógios e cartazes antigos, os azulejos do balcão, as mesas de mármore e as cadeiras de madeira. Um espaço muito português e marcadamente Ribatejano. Na ementa, a região é também a principal inspiração. Não tivemos tempo de provar nenhum dos pratos, como o Pica-pau de toiro bravo de lide, mas não saímos de lá tristes. Sabíamos que nos esperava um grande almoço.
O trabalho de Rodrigo vive muito da sua paixão pelo Ribatejo e a sua missão é sempre enaltecer a região e, por isso, para o nosso almoço escolheu uma carne especial. Fomos até Amiais de Baixo, a terra do bode capado.
No talho de uns amigos, Irmãos Santos, descobrimos mais sobre este cabrito que é capado à nascença para ganhar mais gordura e peso. É um símbolo da região e, todos os anos, protagonista de um festival que lhe é dedicado – o Festival do Capado.
No Ribatejo é tradição juntar amigos em tertúlias, um espaço para conversar, provar iguarias e beber bom vinho. A nossa última paragem foi a tertúlia do chef Rodrigo, em Caneiras.
“Quando tive o acidente e voltei do hospital, a minha mulher, para me animar, perguntou-me se gostava de ter uma tertúlia dedicada aos meus onze anos como forcado. E assim foi, com a ajuda do meu sogro, transformámos a garagem na minha tertúlia, com paredes forradas de fotografias daqueles tempos. Tenho uma admiração pelo touro bravo desde aquela altura, este lugar é-lhe também uma homenagem e o mesmo acontece em tudo o que faço na cozinha em que utilizo a sua carne.” chef Rodrigo Castelo
Lá esperavam-nos alguns amigos, vinho e petiscos da região: queijos, enchidos e camarinhas desidratadas (camarões pequenos utilizados como isco na pesca no Tejo, que o chef recuperou no seu restaurante como uma verdadeira iguaria).
Enquanto esperávamos que estivesse pronto, provámos costeletas grelhadas apenas com sal e pão saloio. Como banda sonora, tivemos o projecto Três Bairros, três músicos amigos do chef que se juntaram a nós para o almoço.
Lá dentro, a mesa corrida perto da lareira foi-se preenchendo. O capado foi servido e fez as delícias de todos. O Esporão Reserva 2014 foi o vinho escolhido e a festa prolongou-se pela tarde dentro. Não foi fácil despedirmo-nos. Estávamos entre amigos e o Ribatejo é um lugar especial.