O início
Foi em 1985 que engarrafámos o nosso primeiro vinho, o Esporão Reserva. Foi o vinho que nos lançou pela notoriedade que foi ganhando em Portugal e fora do país. Conseguimos fazer o nosso caminho, crescendo a bom ritmo, com uma marca forte e com a crítica a acompanhar.
Inicialmente a realidade económica da empresa não foi fácil. Como em todos os projectos, há dificuldades e desafios nos primeiros anos. Aproveitámos o crescimento e fizemos um grande investimento: construímos uma grande adega de vinhos tintos, as caves subterrâneas e o plantado de vinhas. Assim, o projecto ganhou força.
Na altura, havia algum vinho que estava a ser produzido mas que os enólogos consideravam que não tinha a qualidade que o Esporão Reserva pedia e começámos a desenvolver um novo projecto. O objectivo era produzir um vinho com o mesmo perfil do Esporão Reserva, com as mesmas uvas e terroir, com uma qualidade excepcional, com um óptimo perfil organoléptico e aromático, mas sem estágio em barrica ou em garrafa. Era importante fazer um vinho numa escala suficiente, acessível a todas as pessoas e outros mercados. E foi assim, no principio dos anos 90, que a marca Monte Velho se começou a desenhar.
Aos poucos o Monte Velho começou a ser um grande sucesso e começámos a lidar com as habituais “dores de crescimento”: como vamos fazer mais vinho? Precisamos de crescer a nossa área de vinha e capacidade de adega. Tivemos de nos moldar ao crescimento até encontrarmos o equilíbrio que temos hoje. Por exemplo, em vez de termos uma adega, temos três – a adega de vinhos tintos, onde produzimos principalmente Monte Velho, a Adega dos Lagares, que construímos para vinhos topo de gama, e uma adega para vinhos brancos. Foi também nessa altura que tomámos importantes decisões, tendo plantado mais vinha no Esporão e comprado a herdade dos Perdigões com mais 150ha de vinha. Investimos na construção de uma barragem de forma a garantir a água necessária para toda a produção. Todos estes factores foram importantes para que conquistássemos um papel decisivo de liderança no mercado português e para que nos posicionássemos bem a nível internacional e, por isso, o Monte Velho é sem dúvida um motor de crescimento desta empresa. Um motor que tem vindo sempre a crescer, primeiro em volume e depois em maturidade. Maturidade enquanto marca, enquanto produto, sempre integrando e melhorando a sua proposta de valor.
Nos últimos anos, conseguimos ir tão longe como certificar toda a produção de Monte Velho em produção integrada. O Monte Velho tem duas certificações que atestam a sua origem. Primeiro, a certificação de vinho regional alentejano, que é atribuída pela CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), que garante que as uvas têm de vir do Alentejo. Grande parte das uvas vêm aqui da Herdade do Esporão, da Herdade dos Perdigões e de fornecedores que são grandes parceiros nossos, também responsáveis pelo sucesso que tivemos. A segunda certificação, num âmbito europeu, é a de produção integrada – as uvas não só têm de vir de uma determinada região, como também têm de ser produzidas de uma determinada maneira, olhando para questões ambientais como a gestão de solo, ou os produtos que são utilizados.
Confesso que não conheço nenhuma marca que faça o volume que fazemos de Monte Velho e que tenha esta certificação. Isto foi um processo muito exigente que envolveu o Esporão e mais quinze fornecedores de uva com quem trabalhamos em parceria, que decidiram também crescer connosco nesta aventura.
O Alentejo
No início do projecto, no Alentejo, a oferta de vinho desta gama de preço era muito residual, os vinhos que existiam eram feitos em muitos milhões de litros e de uma maneira muito simplista, básica. E o Monte Velho aparece com um valor de 200 escudos e feito com boas uvas, adegas modernas e uma equipa de profissionais competentes, inovadores e motivados.
O Alentejo tinha mais ou menos 10% de quota de mercado em Portugal, portanto, o que se passou a seguir com o Monte Velho foi muito importante. Este vinho construiu uma grande empresa de vinhos de origem portuguesa, ao mesmo tempo que mudou um pouco a história daquilo que é o vinho no Alentejo. Hoje, o Monte Velho é um reconhecido vinho em todo o mundo, bem como a região – não só pela sua capacidade de produzir vinhos topo de gama ou de grande qualidade, mas também vinhos de entrada de gama. Estes são vinhos agradáveis de beber e, ao mesmo tempo, sérios, bem feitos, sem manipulação, fazendo transparecer a verdade de um território que tem todas as condições, principalmente climatéricas, para fazer óptimos vinhos.
Na minha opinião, claro que sou suspeito, mas o Alentejo é, em Portugal, a região onde, além de vinhos de classe mundial, se conseguem fazer os melhores vinhos de Portugal nos posicionamentos de preço mais acessíveis.
O clima extremo do Alentejo impõe condições muito particulares que afectam positivamente os produtos que lá se fazem e que as pessoas gostam. Essa é, para mim, a maior virtude do Alentejo.
A Longevidade
Quando damos a provar um copo de Monte Velho em Portugal ou em qualquer parte do mundo, as reacções são sempre positivas. E são positivas porque este é um vinho agradável, gastronómico e equilibrado. Um aspecto muito interessante é que é igualmente um vinho com capacidade para ser guardado e bebido mais tarde, com prazer. Esta é uma característica que o Esporão Reserva tem e que o Monte Velho também herdou.
Depois de provar o Monte Velho 2005 – um ano que, no geral, não foi incrível para os vinhos no Alentejo -, vejo que continua com uma cor vibrante, com pouca oxidação e uma acidez ainda muito boa. A fruta demonstra uma evolução que seria esperada para um vinho com mais de dez anos. Estes factos indicam que só um vinho que é feito de uma maneira séria, ao nível de produção dos melhores vinhos, é que consegue alcançar esta longevidade.
Fizemos uma prova, em 2014, com alguns dos mais importantes jornalistas de Portugal, onde provámos 10 colheitas de Monte Velho, e foi uma experiência extraordinária. Foi impressionante ver as diferenças de ano para ano. A evolução das diferentes colheitas de anos como 2004 ou 2001. Vinhos brancos, belíssimos. O Monte Velho tem essa capacidade de evoluir bem em garrafa, o que é algo que às vezes não se espera de um vinho que custa 5 euros.
O Futuro
Os volumes de Monte Velho nos últimos anos têm estado estáveis e temos aproveitado isso para consolidar a sua qualidade e preparar o futuro. Estamos a planear uma revisão da primeira adega de 1985. Estas alterações vão ser feitas com trinta anos de aprendizagem de vinificação do Monte Velho e, por isso, acreditamos que irão potenciar um novo patamar de qualidade.
O sonho, que ainda temos, é que o Monte Velho seja um vinho produzido exclusivamente através de uvas biológicas como alguns vinhos do Esporão já são. De todos os vinhos que produzimos, este é, obviamente, o mais exigente neste aspecto, porque é o que tem maior volume e onde a proveniência das uvas não depende exclusivamente de nós – depende também dos nossos parceiros. É um desafio muito exigente. Já estivemos mais longe de atingir este objectivo e vamos continuar a fazer para que tal aconteça.